Contava
sete anos quando me deparei com ela. Empatia recíproca, entre tantos garotos
que lhe fizeram a corte, tinha eu grande chance de ser seu escolhido.
Era a
escola o principal cenário de nossos encontros. Diariamente eram-me reveladas
algumas particularidades de sua personalidade, seus meandros e possibilidades. Eram
inúmeros.
Bibliotecas,
bancas de revistas, Chico Buarque, Oswaldo Montenegro, Domingos de Oliveria, Glauber
Rocha, Aldoux Huxley, George Orwel, Karl Marx e muitos outros que conheci
através de seu intermédio fizeram-me ficar mais apaixonado por ela.
Como saber se era correspondido? Como saber se
estava à altura de suas expectativas?
Como não
tinha certeza se teria sucesso ao me declarar para ela, resolvi investir em meu
intelecto e conhecimento de mundo. Acreditava que se tivesse leitura e viagem
suficiente, conseguiria conquistar seu amor e devotamento.
Passava o
tempo, livros e autores. Cada nova obra que conhecia era um motivo para
aumentar minha estima por ela e a incerteza do seu sentimento por mim. Ela era
gentil, dócil, amiga, meiga e envolvente. E amor? Ainda não havia resposta.
Muitas
vezes pensara em declarar-lhe minhas intenções e acabar com essa dúvida.
Em meus
devaneios apaixonados, ela tomava a iniciativa e confessava-me que sempre me amou
, que o fato de eu lhe admirar já era prova suficiente de amor e de uma união
que seria para sempre feliz. Ah, imaginava com tanta concretude que por um
átimo essa cena me parecia realíssima.
Quando atingi a maioridade de meus
sentimentos e impulso, entendi que chegara a hora de ser franco, sincero, sem
temer a possível rejeição. Ela sabia de meu caráter, minha boa índole e não
iria se ofender se lhe expusesse meus recônditos sentimentos.
Com voz
melíflua, em um fim de tarde com o rosto contra a luz segredei-lhe anos de
paixão, devotamento e ardoroso amor apaixonado.
Contei-lhe os inúmeros livros que lera,
discos que ouvira, peças teatrais que assistira, debates culturais que
participara no afã de estar à sua altura, cultural e sentimentalmente ,e assim,
confessar todas as sentimentalidades de enamorado, que fora cativado por ela,
enfim, contei-lhe que a amava.
Ela, como resposta, dissera que o amor sempre
esteve entre nós. O amor sempre estará entre cada vírgula e reticiências de
nossas efêmeras vidas. Assim tornei-me amante da palavra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário