sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Amor à primeira lida








     Contava sete anos quando me deparei com ela. Empatia recíproca, entre tantos garotos que lhe fizeram a corte, tinha eu grande chance de ser seu escolhido.
     Era a escola o principal cenário de nossos encontros. Diariamente eram-me reveladas algumas particularidades de sua personalidade, seus meandros e possibilidades. Eram inúmeros.
     Bibliotecas, bancas de revistas, Chico Buarque, Oswaldo Montenegro, Domingos de Oliveria, Glauber Rocha, Aldoux Huxley, George Orwel, Karl Marx e muitos outros que conheci através de seu intermédio fizeram-me ficar mais apaixonado por ela.
     Como saber se era correspondido? Como saber se estava à altura de suas expectativas?
     Como não tinha certeza se teria sucesso ao me declarar para ela, resolvi investir em meu intelecto e conhecimento de mundo. Acreditava que se tivesse leitura e viagem suficiente, conseguiria conquistar seu amor e devotamento.
     Passava o tempo, livros e autores. Cada nova obra que conhecia era um motivo para aumentar minha estima por ela e a incerteza do seu sentimento por mim. Ela era gentil, dócil, amiga, meiga e envolvente. E amor? Ainda não havia resposta.
     Muitas vezes pensara em declarar-lhe minhas intenções e acabar com essa dúvida.
     Em meus devaneios apaixonados, ela tomava a iniciativa e confessava-me que sempre me amou , que o fato de eu lhe admirar já era prova suficiente de amor e de uma união que seria para sempre feliz. Ah, imaginava com tanta concretude que por um átimo essa cena me parecia realíssima.
     Quando atingi a maioridade de meus sentimentos e impulso, entendi que chegara a hora de ser franco, sincero, sem temer a possível rejeição. Ela sabia de meu caráter, minha boa índole e não iria se ofender se lhe expusesse meus recônditos sentimentos.
     Com voz melíflua, em um fim de tarde com o rosto contra a luz segredei-lhe anos de paixão, devotamento e ardoroso amor apaixonado.
     Contei-lhe os inúmeros livros que lera, discos que ouvira, peças teatrais que assistira, debates culturais que participara no afã de estar à sua altura, cultural e sentimentalmente ,e assim, confessar todas as sentimentalidades de enamorado, que fora cativado por ela, enfim, contei-lhe que a amava.
     Ela, como resposta, dissera que o amor sempre esteve entre nós. O amor sempre estará entre cada vírgula e reticiências de nossas efêmeras vidas. Assim tornei-me amante da palavra.






quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

AÇÃO CURA O MEDO




Coragem é poder fazer com medo,
Executar com êxito
                                                             Aquilo que lhe atormenta.

Atravessar o vale da escuridão
Sem luz ou farol,
Apenas a certeza
Que prosseguir é o destino.

Coragem é poder assumir
Um amor inesperado,
Repentino e imediato.
Como versos que não são meus.
                                                   São soprados por irmãos desencarnados.



segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Absurdamente covarde




Absurdo
Pensar que tudo possa se acabar em um dia
Ou
Que um dia
Tudo principia.
São sete dias
Segundo o antigo texto.
Covardia
Fazer desta tristeza a minha.

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