Existem
três mascates que residem em uma casa alugada nos fundos de uma residência da
periferia de Caarapó.
Em Caarapó
o senso-comum não encontra diversão além de beber, jogar ou fumar cigarro
paraguaio.
Os três
mascates envolvidos nesse ambiente, foram despertados pelo mascate mais novo,
23 anos, briguento, sonhador e com energia advinda da idade, chama atenção de
seu colega:
-Você
reparou que o “tiozão” ainda não chegou?
-E daí ?
Deixa o cara mano!
O colega
era o mascate de 27 anos. Fazia o tipo observador. Ouvia, entendia algumas
coisas e outras nem tanto.
Normalmente quando havia discussões na casa o colega era o voto inerva
de qualquer assunto. De cocô a bomba atômica.
Era
domingo à noite, cruza o mascate mais velho pelos dois que estavam sentados
diante da televisão.
O mascate
mais velho é separado e apreciador de uma “cachacinha” barata vendida nos
botecos da cidade. É uma pessoa de olhar doce e compreensivo.
O mascate
mais novo entabulou um debate sobre o vício da bebida que culminou em severas
críticas ao mascate mais velho, sobre seu habito de beber e o insuportável odor
que ele emana ao chegar do bar.
O
cachaceiro reagiu com veemência, afirmou que o habito de tomar seu “mé” só
correspondia a ele e a mais ninguém.
O mascate
de 27 anos que até aquele momento não se manifestara, deu uma risadinha
caçoando do mais novo por ter levado um “queimão” do “Tio”.
O novato
enfurecido ao som da risada de seu colega solta um golpe-baixo verbal:
- Pelo
menos eu não tomei guampa por causa da cachaça!
E foi mais além:
- Enquanto
você tomava “pinga” sua ex-mulher tomava “pica” do Zé Adão, homem que você
considerava um irmão.
As faces do
“Tio” ficaram ruborizadas, seus olhos vermelhos dando um ar desfigurado ao seu
rosto. Um assassino, um psicopata se formava em seu rosto olhando fixo para o
novato.
Não
contente com o resultado, o novato arrematou:
- Zé Pedro
também era teu irmão de “Pinga” e “guampa”.
- Enquanto
você tomava um “liso” com Zé Pedro, Zé Adão comia a sua mulher e a dele,
dependia do dia. Acho que até as duas juntas ele “traçou”.
As
gargalhas retumbantes no ambiente foram o suficiente para o “Velho” avançar em
direção ao novato, olhar no fundo dos seus olhos, e começar a chorar.