Eu vi um andarilho no sol, mas não vi seu rosto. O tempo congelou uma foto sua em minha memória. Dei meia volta decidido a bater uma foto dele naquele cenário de produção alimentar em frente a um faminto.
O milharal seco, sem possibilidade de consumo humano, ele,
um rosto honesto que poderia esconder qualquer bandido e uma mochila e um saco
que carregava.
Seu nome é Francisco, se diz carioca, torcedor do
fluminense. Esteve em Guaíra no estado do Paraná e atualmente estava naquela
estrada para chegar a Maracaju.
De Maracaju ele quer chegar a Campo Grande e da capital encerrar sua caminhada em Camapuã, pois lá tem “conhecidos” que o ajudarão com comida e com os documentos que perdera nos percalços da vida e assim recomeçar.
Recomeçar. Palavra essa que nos assola em todos os momentos
de adversidades cotidianas ou existenciais.
Francisco com certeza é alguém que qualquer um percebe que
ele está literalmente recomeçando.
Apenas uma mochila e um saco de linhagem repleto de latinhas
de alumínio. Esses são os ingredientes da receita de Francisco para recomeçar.
Como acredito que a caminhada de Francisco era dele e de mais ninguém, dei-lhe um presente muito útil naquele cenário adverso e hostil: Boas dicas.
Recomendei-lhe que fosse fazer um boletim de ocorrência
(B.O) dos documentos, procurasse a secretaria de assistência social para fazer
os documentos de graça e uma igreja católica com ação social para garantir-lhe
pouso e comida por alguns meses.
Pleitear um emprego no “obrão” ou nas lavouras na safra de
milho que se avizinha era uma opção razoável para quem possui baixa
escolaridade.
Francisco caminhando franciscanamente pelas rodovias do Mato
Grosso do Sul. Sua estrada, seu recomeço.
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