A noite abraça-me fria na calada da alta madrugada.
Estou só, a lua é minha confidente.
O infinito parece a cada instante mais próximo das minhas mãos.
Meus sonhos, meus temores e incertezas afogam minha alma;
sufocam meus gritos.
Esse duelo noturno acompanha-me até o amanhecer;
não tenho sono, não tenho insônia.
Estou sóbrio, embriagado de tédio e angústias indefinidas.
Quando o sol pedir licença, retirar-me-ei deste palco;
esperarei novamente meu ato.
A vida é uma tristeza quase absoluta; rotinas cíclicas, infinitas.
Trabalhos intermináveis.
Todas as manhãs, milhões de seres, em marcha fúnebre, dirigem-se às paradas dessas grandes cidades.
Aglomeram-se, atrolham-se em pequenos espaços.
Sono nos rostos, tristeza nos pensamentos.
Qual o objetivo disso?
Onde isso levará?
Que fim encontraremos para além dessa vida?
Semanas inteiras passadas em branco à espera do fim de semana.
Não é o tempo que estamos matando, é a nossa vida que está morrendo.
Não vislumbramos os jardins, tampouco nossos parentes.
Pensamentos a mil, vidas a dez.
Estamos destinados a envelhecer,e, a beira da morte, compreender que tudo aquilo que passamos, passamos em vão.
Será tarde, o tempo é imutável, o fim não.
Viver o agora, é mais do que viver o presente, é garantir vida no futuro.
E mais uma vez o sol expulsa-me.
Voltarei ao meu ciclo noturno e esquecerei dos sentimentos sentidos quando não estava em posse de minha razão.
(André Guerra)
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